Cidade onde não faltam obras milionárias, como o teatro de R$ 53 milhões, é carente em saúde e educação
Trecho sem asfalto do loteamento Cooperlotes, em Paulínia: Administração Edson Moura (PMDB) prometeu asfaltar 100% do bairro, mas não cumpriu
Como uma cidade cenográfica, onde tudo parece perfeito visto de longe, é preciso andar pelas ruas da periferia de Paulínia e conversar com a população para perceber que os problemas de infra-estrutura ainda são muitos e estão longe de ser resolvidos. No mesmo espaço onde existe um teatro que custou aos cofres públicos mais de R$ 53 milhões — e que estará com suas portas fechadas até o fim das eleições —, um rodoshopping de R$ 58 milhões e 165 mil metros quadrados, que registra movimento abaixo das expectativas, um sambódromo de R$ 49 milhões e o polêmico projeto do Manto de Cristal, que engloba a revitalização do Centro — orçado em cerca de R$ 120 milhões e parado por questões judiciais —, faltam escolas, creches, medicamentos e médicos nos postos de saúde, asfalto, uma segurança mais eficaz nas vizinhanças mais pobres e até mesmo locais de lazer e praças esportivas.
Motivos de reclamação também não faltam para a moradora Dionísia de Oliveira, do Jardim Leonor. “Aqui, nós temos esgoto a céu aberto e a canalização que existe está entupida. Os pontos de ônibus também estão destruídos e algumas áreas servem para que pessoas consumam drogas”, diz. “Em oito anos, o atual prefeito não fez uma creche sequer. Enquanto a cidade precisa de estrutura, o Edson Moura (PMDB) faz teatro, portais”, afirma a moradora. “Vivemos em duas Paulínias. Nossa cidade é boa para quem é da classe rica ou é funcionário público. Para o resto, não sobra nada de atenção. Já esperei mais de dez horas para ser atendida no Posto de Saúde do Amélia”, completa Dionísia, citando um bairro periférico da cidade.
Também cansado de esperar por uma praça de esportes no bairro São José, onde mora com a família, o estudante Giovani Alves de Lima e mais alguns amigos deram milhares de enxadadas em um terreno baldio para abrir espaço para um campo de futebol improvisado. “A gente trabalhava nos finais de semana. Meu pai conseguiu as traves”, lembra o garoto. “Já fizemos até campeonatos aqui”, acrescenta, satisfeito com uma melhoria que os próprios moradores tiveram de criar. Além do campinho de areia, o local também já conta com árvores, todas plantadas pela vizinhança.
Ainda no São José, o Posto de Saúde impressiona a quem passa por ali, mas basta uma visita de poucos minutos para notar que o capricho da fachada não atravessou a porta de entrada. Ali, a população reclama da demora do atendimento e da constante falta de remédios. “O posto é bonito, mas tem problemas. Está faltando muita coisa aqui; remédio é difícil encontrar”, reclama a aposentada Benedita de Oliveira Pires, de 65 anos, que está a procurar de um medicamento para problemas urinários e não encontra. “A gente espera horas aqui para ser atendido e ninguém nos dá uma explicações sobre o que está acontecendo. De manhã, o problema é ainda pior”, reforça a manicure Renata da Costa.
Aguardar na fila e sentir os problemas na área da Saúde de Paulínia já é rotina para a dona de casa Maria Neuza Alves, que também utiliza o PS São José. Uma consulta no local não acontece sem pelo menos dois meses de espera. “Ser atendida no mesmo dia é muito difícil”, afirma. Além da demora no atendimento, outro obstáculo atrapalha a vida de Maria: o alto custo da passagem de ônibus, R$ 2,30. “Pagar isso na ida e na volta várias vezes acaba pesando no bolso”, diz a moradora, que depende do transporte público, já que tudo está localizado no Centro da cidade.